Cartunista mineiro marcou gerações com suas charges, tiras e projetos culturais ao longo de mais de 50 anos de carreira
Se você já abriu um jornal em Goiás e deu uma risada com uma charge certeira, é bem possível que tenha esbarrado com a obra de Jorge Braga. O artista, que faleceu nesta terça-feira, 1º de julho de 2025, construiu uma carreira de mais de cinco décadas marcada por irreverência, crítica social e um profundo compromisso com a cultura e a linguagem dos quadrinhos.
A trajetória de Jorge dos Reis Braga começou cedo. Natural de Patos de Minas (MG), ele deu os primeiros passos como cartunista aos 13 anos, publicando nos jornais A Benção e Jornal dos Municípios.
Ainda na juventude, mudou-se para Goiânia, onde sua produção artística encontrou terreno fértil e se expandiu para diversas frentes da comunicação visual e do humor gráfico.
Ao longo dos anos 1970, Jorge começou a publicar suas tiras e charges em veículos como Cinco de Março, Folha de Goiás, Opção, Diário da Manhã, O Popular e Jornal do Tocantins. Foi nesse período que ele começou a consolidar sua presença como uma das principais vozes do humor visual no estado.
Um artista múltiplo
Mas o trabalho de Jorge Braga não se restringiu às páginas dos jornais. Ele também foi editor de arte na Televisão Anhanguera, colaborou com o teatro e shows humorísticos, e idealizou quatro festivais de humor em Goiás. Suas criações chegaram a veículos de grande circulação nacional, como O Globo, Jornal do Brasil, O Pasquim, Coojornal, Correio Braziliense e a revista Veja.
Seu nome também apareceu no exterior, com publicação no The World News, de Orlando, nos Estados Unidos.
Entre as iniciativas pioneiras de sua carreira, destacam-se o lançamento das primeiras revistas em quadrinhos do estado — Badião e Romãozinho — e a edição do livro Palmas e Vaias, com charges sobre a criação do estado do Tocantins. Em paralelo, Jorge também se dedicou à produção carnavalesca, desenhando carros alegóricos e cenografias para eventos e aniversários de municípios goianos.
Com um estilo direto e bem-humorado, comandou por 15 anos o programa Rádio Cassetada, na Rádio Terra, e também foi editor do jornal Zé Ferino, voltado ao humor gráfico. Ainda criou as tiras do personagem Romãozinho, publicadas no suplemento infantil Almanaque.
Legado cultural
Um dos legados mais duradouros deixados por Jorge Braga foi a criação da Gibiteca do Estado de Goiás. Inaugurada em 22 de setembro de 1994, a iniciativa surgiu inspirada no modelo de Curitiba, que abriu a primeira gibiteca pública do mundo em 1982. Em Goiás, o projeto começou no Parthenon Center, na Rua 4, no Centro de Goiânia, e, com o aumento do acervo e do público, foi transferido para o Centro Cultural Marieta Telles Machado, na Praça Cívica, onde permanece até hoje.
A gibiteca conta atualmente com mais de 6 mil exemplares, incluindo obras raras. Jorge também idealizou a versão itinerante do espaço, levando os quadrinhos a escolas e comunidades. A proposta sempre foi democratizar o acesso à leitura por meio das histórias em quadrinhos — uma linguagem que, segundo ele dizia em entrevistas, tem poder de comunicação, humor e crítica ao mesmo tempo.
A influência de Jorge Braga vai além da produção artística. Ele ajudou a construir um ambiente cultural que valoriza o quadrinho como linguagem e arte, contribuindo para que as novas gerações tivessem contato com esse universo criativo de forma acessível.
Jorge Braga permaneceu ativo até seus últimos dias, com charges diárias publicadas no jornal O Popular. Seus desenhos, muitas vezes bem-humorados e ácidos, refletiam um olhar atento sobre a política, o cotidiano e os costumes do estado e do país.
fonte:curtamais